domingo, 21 de agosto de 2011

Aos novos calouros de Comunicação Social, sobre certa menina.


SOBRE CERTA MENINA.
                           
          Certa vez conheci uma garota que me fez um convite, não entendi muito bem o que ela queria, parecia meio agressiva, um pouco sonhadora, mas conservava tamanha graça que me deixei levar por seus encantos. Logo de cara ela sussurrou docemente em meu ouvido poesias e palavras que me alertavam de um mundo que eu não conhecia. Depois ela pegou em minha mão e me arrastou por todos os cantos, de norte a sul, e eu sem reação ia ficando cada vez mais encantado.
          Com ela conheci muitas pessoas com quem me identifiquei. Todas elas tinham um grito engasgado no peito, uma vontade de dizer ao mundo aquilo que as palavras não sabem expressar. Depois ela disse que eu precisava conhecer sua família, então me levou a um lugar surpreendente, era a casa do povo, e lá eu vi o sofrimento e a miséria. Não contente essa garota olhou em meus olhos e disse: Essa agora também é a sua família, lute..., lute por ela.
           A partir desse dia não pude mais ser o mesmo, já não podia ver a fome com a mesma calma, nem a injustiça com indiferença, já não conseguia ver a ausência de futuro nos olhos de uma criança e não me importar. Nesse dia eu também gritei, gritei contra o aumento de passagem, gritei pela saúde, gritei bem auto pela educação, pela moradia, gritava por respeito, por justiça, pelos que se foram e por todos que ainda virão, e foi aí que entendi por que aquela menina tinha em suas mãos a cor do sangue, o sangue derramado de nosso povo.
          E quando olhei para os lados, eu também vi muitos outros gritando, eram novos, velhos, brancos, pretos, amarelos, eram homens, mulheres, homossexuais, bissexuais, heterossexuais, eram de todas as formas, de todos os credos, de todos os lugares. E sabe o que todos tínhamos em comum? A menina.
          Enquanto gritávamos, nem todos que nos ouviam entendiam muito bem, alguns nos chamavam de vândalos, outros de sonhadores, malucos, cada um dizia uma coisa. A imprensa por sua vez condenava o nosso grito, pois dizia “incomodar”. E era isso mesmo, queríamos incomodar, queríamos mostrar o nosso lado o de nossa nova “família”, o lado que a mesma imprensa calou a mãos de ferro.
          Sem dúvida eu já era outro, talvez não soubesse, mas aquela menina tinha mudado minha vida no momento em que a conheci. O nome dela? Chama-se ENECOS! E hoje o que eu posso te dizer sobre ela, é que se um dia ela sussurrar em seu ouvido não tenha medo.  Apenas se permita escutá-la.  
ENECOS (EXECUTIVA NACIONAL DOS (AS) ESTUDANTES DE COMUNICAÇÃO SOCIAL)
Breno Botelho Ribeiro